domingo, 8 de julho de 2012

P, a, l, a, v, r, a, s




Sono, Saudade, Silêncio, Segredo, Satisfação, Solidão, Sinceridade, Sabedoria, Superação, Sensatez...

Saudade, Segredo, Satisfação, Sinceridade, Solidão, Sabedoria, Superação, Silêncio, Sensatez,  Sono...

Às vezes algumas palavras soltas conseguem exprimir sentimentos tão ligados, de forma que nenhuma explicação longa e coerente poderia descrever.  Assim é a arte...

A expressão com ou sem palavras, com ou sem ordem. Sua ordem tem relação com o que se sente e nem sempre com o que se entende. Assim é o amor...

O amar é uma arte, a mais bela arte! Pode parecer sem nexo, tantas vezes sem cor, mas quem sente sabe bem que é Amor.

Como diria Camões,
“Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos mortais corações conformidade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?”

O amor é o descritível indescritível, é a compreensão do indefinível.
Oras, se camões em seu soneto não consegue limitar o amor, pois sempre se contraria e permanece amor, quem direi eu. 
Tão pouco sei amar correto ou sei amar errado.
Se eu amo?
Nem cabes aqui minha resposta.

Só, Sentir, Sossegar, Silenciar...


J.H.

domingo, 24 de junho de 2012

Replay


Imagine que tenho uma mala muito pesada com um milhão de moedas de ouro. As alças ficam penduradas no meu pescoço, me forçando a cabeça pra baixo, retesando os músculos do olhar pra frente.
Vez ou outra, uma pessoa da rua passa e tenta me roubar. Mas, por mais que esteja tão pesado e doendo e estragando a minha coluna, luto até a morte pra proteger a tal da mala. Automaticamente me atiro contra o chão, como se protegesse um filho das balas. São terríveis esses quilos centralizados no ponto mais fraco do meu corpo, mas pra violência a gente não entrega nem os fardos.
Dai, também, às vezes, uma pessoa da rua se oferece pra carregar a mala pra mim. Ou pra guardar em sua casa. Ou pra dividir o peso ao estilo “uma mão em cada alça”. Também não consigo entregar meu arqueamento e tamanho para essas pessoas. O amor gentil nunca me conquistou. Gentileza é coisa pra quem nunca será íntimo. Solidariedade é coisa pra campanha política. Felicidade é pra quem se conforma em ficar num lugar só porque está bom.
Mas muito de vez em quando, como aconteceu com a gente, aparece uma pessoa que não me pede nada e pra quem eu tenho vontade de entregar cada moeda da minha mala com um milhão de moedas de ouro. Tome, leve, gaste, use, encha a sua banheira com elas e depois me mande uma foto.
Eu sou uma mendiga ao contrario. Eu ando pelo mundo implorando pra que alguém aceite a minha riqueza. Fico sentada no chão, tocando meu instrumento, com um chapéu imenso e lotado. E a plaquinha “por favor, não me ajude”. Muitas pessoas passam, mas pra poucas me levanto.
Posso ficar horas tentando te explicar. Você tem um resto perdido e solitário de sobrancelha ao lado da sobrancelha esquerda. Você tem pequenos buracos entre os dentes de baixo. Você molha o lábio com a língua ainda mais seca que seus lábios, quando está nervoso. Você joga seu maxilar inferior pra frente quando a risada é de deboche. Você joga o seu maxilar superior pra frente quando a risada é de timidez.
Você atravessou a rua com as mãos congeladas dentro do bolso. Você pede perdão pela sua parte playboy com a doçura e a sinceridade de um poeta descalço. Você me convida pra almoçar no restaurante onde terminamos e, porque sabe ser piadista exatamente do jeito que combina comigo, explica detalhadamente onde é o lugar como se eu não lembrasse dele todos os dias.
Eu vejo a palavra “reply” no meu celular e, só porque tem a letra “y”, a letra mais forte do seu sobrenome, sinto de leve um chutinho atrás dos meus joelhos. Eu poderia ficar horas te explicando por que eu acho que é amor.
Você outro dia fez o exercício contrário. Ficou tentando me explicar por que não é amor. Falou da minha amargura verborrágica, das minhas fases com remédios que causam anorgasmia, do quanto odiava quando eu tentava extrair mais e mais e mais do seu peito protegido pelas várias jaquetinhas modernas que parecem paletozinhos mas têm zíper e, por fim, disse que apesar de não simpatizar com elas, prefere as meninas que te fazem sentir de férias em um spa relaxante.
Não são por essas coisas que não se ama. Não são por essas coisas que se ama. Essas são apenas as coisas sobre as quais conseguimos falar na nossa ânsia de ocupar a cabeça enquanto nos encaramos um pouco assustados.
A verdade é que, no meio da multidão, estamos carregando nossas malas pesadas de riquezas e belezas e sentimentos. E uma hora, só porque acontece e não se pode explicar sem parecer ingênuo e arrogante, escolhemos uma pessoa que nos leve.
Eu sei que é amor porque eu te escolhi pra me levar e, mesmo você não tendo aceitado, eu fui.
Eu te vi atravessando a rua com as mãos frias dentro da “jaquetinha paletó que tem zíper” e fui lançada sem tempo de pena. Você não sabe, você não vê, você não quer, você não se importa. Mas, no último segundo do sinal fechado, eu abri a janela do meu carro e joguei a mala com milhões de moedas de ouro.
A mala não te atingiu, caiu meio metro antes do seu último passo. Nem o som do meu peito desmoronado, nem o cheiro do meu amor metalizado, nem a luz da minha devoção dourada. A mala espatifou no meio da avenida caótica pela chuva e pela véspera do feriado. Os famintos, os entediados, os pobre-ninguéns, os todos-os-outros, se engalfinharam pra tirar proveito do amor que, lançado ao homem sem mãos aparentes, agora ficou esparramado, exposto e restante no asfalto, como um resto de feira reluzente.
Tati Bernardi
(Quando não souber descrever o que sentes, busque alguém que tenha sentido o mesmo.)

terça-feira, 1 de maio de 2012

Ilusões


 
Eu estou bem assim, afirmo.
Eu sou muito feliz assim! Retifico.
Embora parte de mim prefira outra forma do meu ser
Àquela forma que eu só fui com você...
Infinidade de pensamentos
Quinhentas ilusões e uma só realidade
Nem sempre triste, mas muito real está tal realidade.
Às vezes o imaginário é o local mais seguro
Sempre inerte, o expert em fazer do ‘tudo errado’ o perfeito...
E do que falta o completo.
Tão amargo mistério, e tão doce ilusão
Do vazio que deixastes das tais grandes emoções.
Pudera eu querer mudar!
Quisera eu tais mudanças desejar.
Inquieta sempre, mas é a constância que move
Deste vazio, se existir, preencher sendo forte.
Forte, disse eu? Ah mentiras...
Mais ilusões...
Aquieta-te alma, silencia coração!
Mais vale um calar na hora certa do que a certeza do que é só ilusão. 

 J.H. da Rocha

quarta-feira, 4 de abril de 2012

O sussurrar das lembranças



Há momentos que nenhuma palavra consegue descrever o que se sente
Há sensações que jamais serão descritas
Há segredos que nunca serão revelados
Há dúvidas que jamais serão respondidas
A relação entre  o passado e o porvir, fino e resistente...
Óh deveras as lembranças são momentos intangíveis!
Pudera eu, retornar fatos tão marcantes...
Há momentos que são eternalizados por sua essência
Óh quão doce são as sensações sinceras!
Quão puro é o amor!
Ou era...
Ah se tudo fosse perfeito... Devo enternecer minha alma
Aquieta-te! Sossega coração!
Óh quão doce é o silêncio, e tão amargo é o seu ecoar
Calaram minhas palavras,
Calaram-se as palavras escritas
Aquele fel do seu sussurrar jamais será revelado.

Julie Hellen

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Perfil

Eu tenho dentro de mim um furacão de anseios, desejos e dúvidas.
Calo-me dia após dia, pois quanto mais procuro entender, menos eu sei a meu respeito.
Sou como um misto de silêncio e tempestade
Quão enganosa eu sou, tentando me persuadir, figura cômica e louca
Digo-lhes a verdade, escondendo isto de mim, sou um furacão, feito de idéias e opiniões, vivências e ilusões, tentando conter-se na forma de brisa da tarde.
Ah que vontade insana de ter mil vidas
Viveria cada uma de forma diferente!
Como consigo apreciar coisas tão variadas?
Há quem diga ser impossível dividir seu apreço por coisas opostas
Mas é o tudo diferente que me faz querer ambos.
Cansei de tentar, sem desejar realizar, descrever o meu ser
Sempre que acredito conhecer sou surpreendida por novas concepções
E penso, transformo, faço e me refaço
Jamais desejei ser tão intensa, e ser tão inerte...
Amar muitos, e ao fim parecer não amar a ninguém.
Oh quão doce poderia ser o meu ser
Mas sou doce, deveras, e quão amargo é o meu pensar
Tenho alma de um mar sereno e claro, que azul celestial aparenta ser
Quão traiçoeiro, é sem querer
Meu mar de alma... Que exacerbada tendência de afogar todos que por ti tentam navegar
Quão doce poderia ser...
O gosto de não conseguir se expressar é azedo
Por que a vida não pode ser vivida de forma escrita?
Retiremos a obrigação da oralidade!
Com certeza assim, ou talvez, eu seria melhor compreendida.

J.H. Rocha